sábado, 25 de agosto de 2007

Abelha Uruçu e APA de Baturité


No Ceará existe um verdadeiro “oásis” implantado perto de Fortaleza e constituindo uma ilha de Mata Atlântica que difere do lugar-comum que é o ecossistema da caatinga ao redor. Esta “ilha” guarda características únicas, só encontradas em outras regiões serranas do Estado, cabendo a observação e uma posterior pesquisa para sabermos se todo o território nordestino um dia já foi uma imensa e contínua floresta Atlântica que emendava-se à Floresta Amazônia a partir do Maranhão, e que devido a fatores climáticos ou mudanças climáticas a vegetação que hoje conhecemos como fazendo parte da caatinga seja uma adaptação às novas condições climáticas na região, sobrando nas regiões de maior altitude como é o caso do Maciço de Baturité, ou a Zona da Mata que vai pelo litoral desde o Rio Grande do Norte até a Bahia, como em outras poções no Nordeste, regiões com um clima ameno e uma vegetação característica de áreas mais úmidas. Mas são conjecturas que necessitam de uma maior pesquisa. O fato é que existe este território com uma área de largura média de 22km e uma área total aproximada de 1.300 quilômetros quadrados, altitudes que ficam na média de 600 metros, com características únicas no Estado, e vejamos o que diz o Órgão do Meio Ambiente estadual:
“O Maciço Residual de Baturité (popularmente conhecido como Serra de Baturité) configura-se como um território de exceção no contexto da quase absoluta semi-aridez do Ceará. Sob o ponto de vista climático, na área serrana, a incidência de totais pluviométricos elevados (Média de 1500 mm anuais) permite incluí-la como uma das mais úmidas do Estado. Esse fato é oriundo da ação combinada da altitude e exposição do relevo face aos deslocamentos de massas de ar úmidas. De modo geral a temperatura é atenuada pelos efeitos da altitude, com variações térmicas não significativas ao longo do ano. Via de regra a temperatura oscila entre 19 e 22º C.
A área em questão constitui um dos mais expressivos compartimentos do relevo elevado do Ceará, os chamados relevos residuais resultantes dos processos erosivos ocorridos na era Cenozóica que envolve o período terciário, o qual teve início no Paleoceno, há quase 70 milhões de anos e terminou no Quartenário (Holoceno e Pleistoceno), período mais “recente” na escala do tempo geológico, iniciado há um milhão de anos, quando ocorreram as mais severas eversões (desmoronamentos) do pavimento nordestino até tornar-se desgastada a depressão sertaneja atual.
Tais características climáticas e geomorfológicas possibilitaram a evolução de uma complexa cobertura vegetal, com características gerais de floresta tropical úmida, e atualmente fazendo parte do Complexo Florestal da Mata Atlântica (Workshop Mata Atlântica do Nordeste, 1993 – Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal) a qual abriga uma rica biodiversidade Fito – faunística, onde pode-se encontrar espécies tipicamente Amazônicas (Ex: Surucucu - Pico - de – Jaca/ Lachesis Muta), assim como da Mata atlântica (Ex: Guaramiranga/Pipra Fasciicauda). Vale ressaltar que devido ao isolamento físico provocado pelas características climáticas e geomorfológicas da região, a APA DA SERRA DE BATURTÉ apresenta um alto grau de endemismo de espécies (espécies que só ocorrem nesta região), representando um verdadeiro banco genético de nossa biodiversidade”. (http://www.semace.ce.gov.br/biblioteca/unidades/APABaturite.asp)

Este endemismo é que me chama a atenção, pois tenho visitado a região há anos e no tempo em que estava mais ligado à pesquisa e criação de melíponas, sabia que esta região comportaria um grande número de espécies e sub-espécies, fato que verifiquei, pois existe a Urucu (Melípona scutellaris) encontrada e sendo uma espécie comum à Zona da Mata, assim como a Jandaíra o é no sertão. Mas, apesar de já ter encontrado criações e criadores com tal abelha, por saber que apesar da região ser relativamente preservada, o que acontece devido em grande parte ao fato da região ser em sua maioria composta de sítios nos quais os seus proprietários só os utilizam, em sua maioria, como locais de veraneio e descanso como me foi relatado, mas podemos especular que por ser uma região relativamente pequena em área e que os “meleiros” ou caboclos da região atuam sobremaneira, temos que existe esta espécie isolada, endêmica e que pode ser alvo de uma extinção futura se medidas orquestradas por ambientalistas, meliponicultores e interessados no assunto não se dispuserem para o fato, pois sei que esta região foi transformada em APA desde 1990, mas as intervenções humanas na região cedo ou tarde se tornarão mais abrangentes e podemos vislumbrar que num futuro próximo esta abelha não seja mais encontrada com tanta facilidade, assim como aconteceu com a Jandaíra no sertão, onde a caatinga sendo queimada na busca de carvão para todo tipo de empresa que necessita deste combustível para as suas fornalhas destroem o habitat e “a casa”, ou seja, as árvores que dão guarida a tais abelhas sertanejas. E a urucu, como demais espécies encontradas nesta região serrana, como a Canudo Torce-Cabelos que já postei fotos anteriormente, correm um risco ao tornarem-se suas populações escassas, mesmo porque no Ceará, ao contrário do que ocorre na Zona da Mata, tradicionalmente o mel de Jandaíra é mais procurado e as outras melíponas só tem interesse nos locais aonde aparecem e por isso mesmo, afora alguns criadores, a maioria procura por um consumo omediato, feito no local pelos próprios "meleiros". E as Uruçus estão isoladas de qualquer contato natural de outros de sua espécie e, portanto, sofrerá o que o Dr. Warwick Kerr, geneticista brasileiro que brada há anos que, num meliponário é necessária a manutenção de pelo menos 44 colônias de uma mesma espécie para que os cruzamentos proporcionem uma renovação genética. Vejamos o que ele diz nesta ementa de uma projeto de pesquisa exposto na Internet:

MONITORAMENTO DOS ALELOS SEXUAIS XO EM UMA POPULAÇÃO FINITA DE Melipona scutellaris (APIDAE, MELIPONINI
“As descendentes de uma amostra de 22 colônias de Melipona scutellaris (Apidae, Meliponini) da floresta de Lençóis, BA (Brasil), mantidos em Uberlândia, MG, onde elas não ocorrem naturalmente, foram monitoradas quanto ao número de alelos xo remanescentes nesta população finita, de maneira a se avaliar o efeito da introdução de material geneticamente ativo em populações pequenas e fechadas, bem como a viabilidade destas populações. Objetivou-se, também, aperfeiçoar métodos, que contornassem ou minimizassem o aparecimento de machos diplóides para serem usados em meliponários em perigo de extinção, em vista do número mínimo de colônias necessárias para manter 6 alelos xo (Kerr e Vencovsky,1982 e Woyke, 1980). Ao todo 401 colônias filhas foram produzidas artificialmente, usando-se 4 métodos de divisão. Foram amostradas 79 colônias, dentre as quais 12 apresentaram produção de machos diplóides. As amostras foram coletadas e analisadas segundo a técnica de Kerr (1987). Foram feitas, gradualmente, neste período, 30 introduções de rainhas fisogástricas oriundas de Lençóis (14), Piatã (13) e Catu (3). Os resultados iniciais apresentaram um declínio do número de alelos xo ao longo destes 5 anos de coleta, o qual foi gradualmente compensado com as introduções das rainhas fisogástricas. Os números de alelos xo de 1991 a 1995 foram respectivamente 14,00; 7,99; 7,33; 13,97 e 20,00. Com base nestes resultados, cuja média e erro foram estimados segundo a técnica Jack-knife, pode-se estabelecer algumas recomendações, para evitar a perda dos alelos sexuais, tais como: manutenção de meliponários com mais de 44 colônias, manutenção de áreas contínuas de floresta, ensinar os meleiros a transferirem as colônias para caixas de madeira ao invés de destruí-las; em meliponários com 30 a 40 colônias trocar 4 a 5 rainhas fisogástricas a cada ano e em meliponários com menos que 15 colônias, ao dividir a melhor, a colônia filha deve ser levada para outro meliponário ou mata nativa para cruzar”.
Portanto, tais abelhas só poderão escapar da sina destruidora e nem sempre premedita pelo homem se mais pessoas se dispuserem a criar estas melíponas em suas propriedades, tornando-se meliponicultoras com uma consciência, além da comercial, mas ecológica, para poderem manter esta espécie para as futuras gerações, que disporão de um ambiente de Floresta Atlântica tais quais as encontradas em outras regiões nordestina e brasileiras, guardando a mesma fauna e flora.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Uma Reportagem da Globo Rural em 22.08.07


"Um projeto de reintrodução da abelha jandaíra está fazendo sucesso no oeste do Rio Grande do Norte. Além de garantir renda para agricultoras, o programa ajuda a preservar este tipo de abelha, que não tem ferrão e é nativa da caatinga.
Nesta época de ventos fortes, janelas e portas ficam sempre fechadas no assentamento Novo Pinheirinho, na zona rural de Mossoró. A agricultora Noilde Xavier cuida para que a poeira não cubra os móveis.
No quintal, guardado por fruteiras, o maior tesouro da casa está protegido. A agricultora é uma das cem mulheres cadastradas no projeto Padre Humberto. Ela divide as tarefas domésticas com o manejo da abelha jandaíra. “É muito fácil o manejo e eu gostei muito”.
O projeto Padre Humberto foi criado há dois anos e beneficia famílias de dez comunidades rurais no sertão potiguar. O detalhe é que só mulheres foram cadastradas para cuidar da abelha jandaíra. “Pelo seu manejo ser extremamente simples e não precisar da força física, não tira das mulheres a atividade do seu dia-a-dia, ou seja, seus afazeres domésticos”, explica o coordenador do projeto Paulo Menezes.
O manejo é simples. Só em época de seca as mulheres precisam alimentar as abelhas botando água com açúcar. Em ano de bom inverno é possível fazer até duas colheitas, mas como as chuvas foram irregulares no sertão potiguar, a produção deve diminuir cerca de 50% em relação ao ano passado.
A baixa produtividade é compensada pelo preço. O litro do mel da jandaíra é comercializado por R$ 70,00. “Faz mais ou menos seis meses que eu estou com as abelhas e já colhi quatro litros de mel. E a gente não gasta nada”, conta a agricultora Alzira Soares.
O projeto é uma homenagem ao padre Humberto Bruning, um grande estudioso da abelha jandaíra".

domingo, 19 de agosto de 2007

Um texto Instrutivo


"Entre as abelhas sociais brasileiras, as pertencentes à subfamília Meliponinae, chamadas popularmente de abelhas indígenas sem ferrão, são as mais conhecidas. Existem mais de 200 espécies diferentes, algumas das quais freqüentemente criadas para a produção de mel.
Os ninhos dessas abelhas são encontrados, de acordo com a espécie, em locais bastante diversos, havendo aquelas que constroem ninhos subterrâneos, dentro de cavidades preexistentes, formigueiros abandonados, entre raízes de árvores etc, como a guira ou mulatinha-do-chão (Schwarziana quadripunctata) ou a mombuca (Geotrigona mombuca) ou, ainda, a mandaçaia-do-chão (Melipona quinquefasciata). Outras constroem ninhos aéreos, presos a galhos ou paredes como a arapuá (Trigona spinipes) ou a sanharão (Trigona truculenta). A maioria das espécies, entretanto, constrói seus ninhos dentro de cavidades existentes nos troncos ou galhos das árvores como a jataí (Tetragonisca angustula), a mandaçaia (Melipona quadrifasciata), a manduri (Melipona marginata), a mandaguari (Scaptotrigona postica), a timirim (Scaptotrigona xanthotricha) e muitas outras espécies. Muitas dessas espécies, que utilizam cavidades em madeira, são muitas vezes encontradas em cavidades existentes em muros e paredes de alvenaria, como acontece comumente com a jataí, a iraí (Nannotrigona testaceicornis) e a mirim (Plebeia droryana).
Algumas espécies fazem ninhos ainda dentro de cupinzeiros como acontece com a cupira (Partamona sp.) ou com Scaura latitarsis, e outras constroem dentro de formigueiros ativos.
O interessado em abelhas indígenas precisa atentar para o fato de que muitas vezes o nome popular varia de uma região para outra, de tal forma que muitas vezes uma única espécie recebe, em regiões diversas, denominações diferentes e, muitas vezes, o mesmo pode ser usado para designar várias espécies de abelhas.
Como as abelhas são polinizadoras de plantas, cultivadas ou não, é importante que se atente para o fato de que, mais importante que o mel produzido por elas, é a polinização que promovem e que permite a produção de sementes por diversas plantas, muitas das quais extremamente úteis para o homem. Sem esse auxílio, muitas espécies de plantas deixam de produzir frutos e sementes, podendo inclusive serem extintas.
Dada a grande importância das abelhas indígenas é preciso que se preservem estas espécies, pois, muitas delas estão sendo dizimadas, seja pelo desmatamento e queimadas, seja pelo uso indiscriminado de agrotóxicos.
Como muitas dessas espécies produzem mel saboroso e muito procurado, os próprios meleiros, que retiram o mel destruindo a colméia, contribuem para a extinção dessas abelhas em algumas regiões.
A criação dessas abelhas e a sua exploração racional podem contribuir para a preservação das espécies e dar ao meliponicultor oportunidade de obter mel. Esta atividade vem sendo desenvolvida há bastante tempo em diversas regiões do país, especialmente no Norte e Nordeste, havendo meliponicultores que possuem grande número de colméias de uma única espécie, como é o caso da tiúba (Melipona compressipes) no Maranhão ou a jandaíra (Melipona subnitida) no Ceará e Rio Grande do Norte. Existem, ainda, muitos meliponicultores que criam abelhas indígenas como passatempo, explorando o mel apenas esporadicamente. Colônias de abelhas indígenas podem ser obtidas pela atração de enxames, pela divisão de colônias já estabelecidas e pela captura de colônias existentes na natureza.
Para se atrair enxames, utilizam-se caixas de madeira. No seu interior coloca-se um pouco de cerume e resina, retirados de colônias de abelhas indígenas. Usam-se, também, caixas nas quais estiveram instalados colônias dessas abelhas, que foram transferidas e que ainda contêm restos da colônia original. Estas caixas devem estar bem fechadas e possuir uma abertura por onde as abelhas possam penetrar. Devem ser colocadas em locais protegidos, onde existam colônias naturais, que possam enxamear. Devem ser periodicamente inspecionadas, retirando colônias de formigas e outros animais que possam aí haver se instalado.
Quando uma colônia de abelha indígena enxameia, ela contém um vínculo relativamente duradouro com a colméia mãe, da qual as operárias levam, aos poucos, alimento e cerume para a nova colônia. Por esta razão, um enxame recém -estabelecido, com boa quantidade de favos e alimento estocado, pode então ser transportada para o meliponário.
Para a divisão, retiram-se favos com cria velha (pupas e abelhas prestes a emergir), devendo-se usar, para isso, colônias fortes, com bastante cria. Se a colônia for de uma Melipona (mandaçaia, manduri, uruçu, jandaíra, tujuba, tiúba, etc), espécies que se caracterizam por serem relativamente grandes e construírem a entrada do ninho com barro, formando uma estrutura raiada, não há necessidade de se preocupar com célula real, pois estas abelhas não as constroem, estando a cria, que dará origem às rainhas, distribuídas pelo favo, em células iguais àquelas de onde nascem as operárias e machos. Se a colônia for de uma espécie da tribo Trigonini (Jataí, iraí, mandaguari, tubiba, timirim, mirim, mirim preguiça, moça-branca, etc), é necessário que , nos favos, exista uma ou mais células reais, de preferência prestes a emergir. Esta célula real é facilmente reconhecida por ser maior que as células das quais emergirão operárias e machos.
Além dos favos, retiram-se, também, cerume e potes de alimento com mel e pólen da colméias que estão sendo divididas, cuidando-se para não danifica-los. Com esses elementos monta-se a nova colméia, tomando-se todos os cuidados na transferência para outra caixa. A nova colméia deve receber abelhas jovens, reconhecidas pela sua cor clara e por não voarem.
Após a montagem da nova colônia, esta deve ser colocada no local onde se encontrava a antiga que deve ser transportada para outro lugar. Este cuidado visa suprir a nova colônia com abelhas campeiras. A nova colônia deve estar bem protegida contra o ataque de formigas, pois nesta fase o enxame ainda está desorganizado.
Na formação de uma nova colônia podem ser utilizados elementos de mais de uma colônia da mesma espécie, tomando-se o cuidado para não misturar abelhas adultas de mais de uma colméia, pois isto acarretaria luta e, consequentemente, a morte de muitas delas.
A divisão de colônias deve ser realizada em época na qual as abelhas estejam trabalhando intensamente, e deve ser realizada pela manhã, em dia quente e só deve envolver colônias fortes nas quais existam bastante alimento e favos de cria.
Para capturar colônias na natureza, o criador pode levar, para seu meliponário, galhos ou troncos onde existam colônias, devendo, para isso, corta-los com cuidado para não atingir o ninho e fechar as extremidades do oco, caso fiquem expostas. Antes de cortar é importante fechar a entrada da colméia com tela ou algodão para impedir que muitas abelhas escapem. No caso de muitas abelhas estarem fora do ninho após sua captura, o tronco ou galho contendo o ninho deve ser deixado com a entrada aberta, o mais próximo possível de onde se encontrava originalmente, para que as abelhas retornem a ele. À noitinha, quando todas as abelhas estiverem recolhidas, a entrada deve ser fechada com tela e então a colônia pode ser transportada com cuidado para o meliponário, devendo o tronco ser colocado na mesma posição em que se encontrava. A tela da entrada deve, então, ser retirada. Durante o transporte, choques violentos devem ser evitados.
Colônias que se encontram em outro tipo de cavidade, como paredes, muros, barrancos, etc, devem ser transferidos para caixas, caso se deseje capturá-las.
Para se transferir uma colônia de abelha indígena para caixa é preciso ter acesso à cavidade onde o ninho se encontra alojado. Caso este se encontre dentro de galho ou tronco de árvore, estes devem ser abertos com auxílio de machado ou motoserra, tomando-se o cuidado para não atingir o ninho. Caso se encontre em cavidades dentro de muros ou paredes, a cavidade pode ser atingida desmontando-se parte da construção, o que nem sempre é fácil ou possível.
Quando se trata de ninho subterrâneo, cava-se o solo até atingir a cavidade onde ele se encontra, tendo-se, antes, o cuidado de introduzir, pela entrada, um arame com um pedaço de algodão preso à ponta. Este arame serve de guia e se este cuidado não for seguido pode-se perder o canal de entrada e, desse modo, não se conseguir achar o ninho.
Após atingir a cavidade onde se encontra o ninho, realiza-se a transferência de seus elementos para a caixa onde o ninho será abrigado. No caso de ninhos subterrâneos, muitas vezes é possível transferi-lo inteiro, sem que ele seja danificado. Neste caso, a caixa deve ter dimensões tais, que permitam o acondicionamento do ninho inteiro.
Quando tiver que desmontar o ninho, para transferi-lo, certos cuidados devem ser tomados: no caso de o ninho haver sido submetido a golpes fortes, como acontece normalmente com os alojados em troncos ou galhos de árvores, só os favos que contenham larvas, que já ingeriram a maior parte do alimento e favos mais velhos reconhecidos por sua cor mais clara e por serem mais resistentes, devem ser aproveitados. Os favos mais novos, que contêm ovos e larvinhas novas, devem ser descartados. Todos os danificados ou amassados devem ser, também, eliminados.
Os favos devem ser colocados na mesma posição em que se encontravam na colônia natural, e entre dois favos deve haver espaço suficiente para a circulação das abelhas. O mesmo deve acontecer entre o fundo da colméia e o primeiro favo colocado. Para se conseguir isto, coloca-se um pouco de lamelas de cerume entre os favos e entre estes e o fundo da colméia.
O cerume deve ser retirado da colônia antiga e colocado na nova, tomando-se o cuidado para não amassar muito as lamelas. Estas devem ser colocadas em torno da cria para protegê-la.
Só devem ser colocados na nova colônia potes de alimento intactos. Potes rachados, principalmente de pólen atraem forídeos (pequenas mosquinhas) que proliferam na colméia, utilizando como alimento, principalmente, pólen e alimento de cria. A proliferação de forídeos pode levar à destruição da colônia.
O mel contido em potes danificados pode ser posteriormente devolvido à colônia em pequenas doses, colocadas em alimentadores dos mais diversos tipos. O pólen pode ser devolvido, após o restabelecimento da colônia, em potes de cera cuidadosamente fechados. É muito importante que a colônia receba pólen de sua espécie, pois aí existem bactérias envolvidas na sua fermentação. Sem esta fermentação específica, o pólen não pode ser usado como alimento pelas abelhas.
Devem ser também transportados os depósitos de resina e cera da colônia original, bem como todas as abelhas adultas. As que não conseguem voar devem ser cuidadosamente coletadas e colocadas na nova colônia Cuidado especial deve ser tomado com a raínha que é reconhecida pelo seu abdômem grandemente dilatado.
As abelhas, que conseguirem voar e escaparem no momento da captura, voltam ao local onde a colméia estava instalada. É aí que se deve colocar a nova caixa para que elas entrem. É importante que a entrada da nova caixa fique aproximadamente na mesma posição em que estava a entrada da colônia antiga. Um pouco de resina e cerume da colônia original, colocados em torno da abertura da nova colônia, ajuda as abelhas a encontrarem a entrada. Caso o ninho, antes de sua bertura, tenha sido transportado para longe do local onde estava instalado, as abelhas que voarem tenderão a voltar ao local de abertura do ninho e a nova colônia aí deve ser deixada até que a maioria das abelhas haja retornado e penetrado na colônia.
Em todos os casos, os restos da colônia antiga, especialmente as partes que contêm resina e cerume, devem ser levados para longe, pois funcionam como atrativo para as abelhas que voaram, dificultando a chegada destas à nova colméia.
Após a montagem da colônia, a caixa deve ser fechada de modo a não deixar frestas por onde possam penetrar parasitas ou abelhas saqueadoras. Para a proteção contra formigas, o suporte da nova colônia pode ser untado com graxa de modo a impedir que elas a atinjam, pelo menos até seu restabelecimento.
Não se deve realizar transferência quando as abelhas não estiverem trabalhando normalmente, especialmente em épocas frias, quando as novas colônias poderão ficar muito tempo desorganizadas à mercê de predadores e parasitas.
As abelhas indígenas sem ferrão podem ser acondicionadas em caixas rústicas de tamanhos variados, com volume semelhante ao do ninho natural. Este tipo de acondicionamento tem sido muito utilizado em diversas regiões.
Muito comum também é o alojamento de colônias de abelhas indígenas dentro de cabaças, sendo comum encontrar abelhas, assim, acondicionadas em casas da zona rural.
As abelhas que constroem ninhos subterrâneos normalmente só sobrevivem quando acondicionadas em abrigos subterrâneos. Estes abrigos podem ser construídos com tijolos ou mesmo vasos de barro, opostos pela boca. Quando estes abrigos estão enterrados completamente, é importante deixar um tubo conectando o abrigo com o exterior para funcionar como tubo de saída das abelhas. O tamanho do abrigo deve ser semelhante ao da cavidade, onde o ninho estava alojado.
O professor Paulo Nogueira Neto, sem dúvida o maior especialista em criação de abelhas indígenas, idealizou uma colméia racional para estas abelhas, que facilita o manuseio e extração do mel e a divisão das colméias. Seu livro sobre este assunto é leitura indispensável àqueles que desejam criar abelhas indígenas sem ferrão.
Para se transferirem colônias para este modelo de caixa, deve-se tomar cuidado especial com os potes de alimento, pois a altura dos espaços destinados a eles é limitada. Só devem ser transferidos diretamente os potes, se tiver certeza de que não se vai danifica-los. O resto do alimento deve ser transferido, posteriormente, como já descrito.
Quando a colméia utilizada para criação das abelhas for de um modelo que as obrigue a colocar a maioria dos potes de alimento em posição que permita que eles sejam removidos sem danificar a estrutura do ninho, eles devem ser removidos, juntamente com a gaveta (em colméias semelhante ao modelo PNN) ou isoladamente (em colméias de outros modelos), abertos e colocados para escorrer sobre peneira. Quando a colméia não pemitir a separação dos potes do resto do ninho, como acontece em colônias acondicionadas em cabaças ou caixas rústicas, o mel pode ser retirado com o auxílio de uma seringa plástica de 20 cm3, sem agulha. Nesse caso, os potes são abertos e o mel sugado com auxílio da seringa que deve ser nova, estéril e usada unicamente para essa finalidade. Uma parte do mel existente na colméia deve ser sempre deixada para o consumo das abelhas.
Algumas abelhas têm o hábito de coletarem fezes, suor ou outras substâncias que podem estar contaminadas e, desse modo, serem prejudiciais à saúde. Nesses casos, deve-se evitar o consumo do mel, pelo menos quando as colméias estiverem em local onde as abelhas tenham acesso a estas substâncias.
Em épocas de escassez de flores, pode ocorrer falta de alimento nas colméias, especialmente em áreas superpovoadas. É importante que o meliponicultor verifique, periodicamente, o estado de suas colméias e, em caso de fome, alimente-as com mel de Apis mellifera dissolvido com 20% de água limpa (8 partes de mel para duas partes de água) ou xarope obtido pela mistura de uma parte de açúcar, ou rapadura e uma parte de água. A mistura é fervida, e depois de fria, pode ser utilizada para alimentar a colméia.
O alimento deve ser colocado em um alimentador, que pode ser um pedaço de mangueira transparente fechado com algodão. Coloca-se o mel ou xarope dentro e fecha-se a outra extremidade também com algodão, fazendo com que este se embeba no xarope. O alimentador é então posto dentro da colméia, tomando-se o cuidado para que não vaze.
Dadas as características biológicas das abelhas, elas são bastante sensíveis à endogamia (cruzamento entre parentes)e, por esta razão, o meliponicultor precisa ter em seu meliponário, no mínimo, 40 colméias de cada espécie que esteja criando. Isto não é necessário caso o meliponário esteja instalado em ambiente, onde este número de colméias possa existir na natureza (próximo de mata ou outro ambiente rico em colônias das espécies em questão).
As abelhas, em geral, são, como já foi dito, insetos muito importantes para a polinização e devem ser preservadas. Uma das formas de se fazer isso é preservar colônias naturais. O meliponicultor deve preocupar-se em coletar apenas as colméias que estejam correndo risco, procurando, sempre que possível, não derrubar árvores com único intuito de coletar colméias dessas abelhas.
As abelhas mais comuns na área onde está instalado o meliponário devem ser as preferidas pelo meliponicultor, desde que atendam aos seus objetivos. Na tentativa de obter colméias de abelhas raras na região onde se encontra, o meliponicultor pode inadvertidademente estar contribuindo para a extinção destas abelhas, pois muitas delas não se adaptam às condições de criação.
Preservando a natureza, estaremos ajudando a preservar também as abelhas."

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

As abelhas nativas estão adaptadas às regiões brasileiras em que se adaptaram ao clima e vegetação de tal maneira, que seria difícil uma adaptação em outras regiões que não a de origem. Há relatos de adaptação da Jandaíra em outras regiões e até em Portugal, mas o seu desenvolvimento fica bastante prejudicado. No Sul do Brasil alguns criadores chegam a criar uma estufa em que as colônias têm um pequeno aquecimento dentro de galpões fechados e iluminados por lâmpadas incandescentes, e assim conseguem extrair uma boa produção de mel.
Mas o certo é mantermos as nativas em seus locais de incidência. A jandaíra tem por habitat o sertão nordestino; a Mandaçaia o sudeste brasileiro; a jataí está presente em grande parte do Brasil; e outras como mandurí, tiúba da Amazônia, todas em seus respectivos habitats.
Na foto vemos uma criação não-racional, feita com troncos da região, e trata-se da Tiúba do Maranhão. No Nordeste são usadas cabaças, que são o fruto de certa corcubitácea em que os cablocos tiram a parte carnosa do fruto para deixá-lo apto para servir de abrigo a uma colônia.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Abelhas - O Hobby

Trata-se da "prima" da abelha do post anterior, apesar de serem semelhantes no tamanho e somente diferirem na cor, esta abelha amarela parece diferir também quanto ao local de nidificação, pois ao contrário da outra, que procura locais perto, senão entrando no solo, como uma vez constatei, esta faz os ninho tradicionalmente nos troncos das árvores, mas pude notar que são mais agressivas que as primeiras, uma verdaeira torce-cabelos.